Eu estava lá.
Cheio de planos e esperanças, olhando para cima, dando significados às formas que as nuvens assumiam…
Cheio de uma risada sonsa, pisando uma pisada de trouxa.
Amando cada fecho de luz, seguindo um caminho que a nada conduz, e tropeçando aos borbotões.
Eu e minha cabeça, com planos e ações, soluções, nações e aptidões.
Eu conheci cada segredo, e com argúcia discerni entre as coisas ostensivas e as secretas, eu abria janelas abertas e fechava as que não conseguia abrir.
Eu avistava caracarás, aprendia sobre os marajás, repudiava o terrorismo e queria o bem, a integridade e gostava disso tudo, especialmente se feito com maestria e discrição.
Eu corri no sol, eu nadei no verde das águas cheias de lodo, eu enchi minhas meias de areia, eu comi pouco, eu quase morri.
Vivi como quem vive de sopro, e no caminho todo, cheio e amplo, como nem o inferno pode ser, eu estava sob as suaves algemas da clausura.
Tudo tão profundo, tudo tão sem fundo, tudo tão diferente de mim.
E nisso tudo eu vi: a porta de todo conhecimento, feita de um mármore branco, reluzente e robusto, iluminado como nenhuma luz que já houvera posto meus olhos.
Eu vi o presente, compreendi o futuro e aprendi com o passado, eu dancei com anãs brancas e comi com buracos negros.
Eu aprendi todas as línguas e vivi mil vidas, fui um mercenário e um hindu, fui um índio e um fui um descobridor, fui jesuíta e franciscano, fui nazista, socialista, batista e capitalista…
Um sino tocou alto e cheio de santidade, um arauto eloquente. Sinalizava o fim de tudo.
Dai, as cores foram tomando um tom carmesim, um filtro de sangue me encheu as vistas,..
Maldito poço de água limpa e espelhada.