sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Uma folha




Uma folha

Carrega a folha
No vento
Voa meu pensamento
Constante gotejar

Até que se perca
O controle
Da gota que
Se torne rio

Aguaceiro de
minha mente
afogar-se em mim

até que de rio
vire mar
até que eu possa acordar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O VIOLINA DE ALINE

Num apartamento apertado vivia Aline.

Sonhadora e leve como um suspiro, Aline vivia com os pés na terra e a mente nos céus; diziam todos que ela era burra.

Nunca soube nada e de tudo que aprendeu esqueceu mais da metade, era muito educada e possuía uma erudição única, contudo, os saberes seus de nada adiantavam, de nada lucrava e de nada construíam.

Aline era como um travesseiro meio vazio, cheiro de camomila e cores meio apagadas.

Se não tivesse nascido gente, teria sido uma brisa de primavera ou um dente-de-leão voando nos ares.

Aos 5 anos de idade Aline ouviu um som desconhecido, era um gemido agudo e longo, triste como só a vida pode ser.

Foi paixão à primeira ouvida, não dormiu  bem por muitas, desejosamente atormentada pela paixão que aquele som lhe produzia.

Deitava e sentia um comichão lhe correr a espinha, só de reproduzir mentalmente o som que tanto amava.

Num certo fim de tarde, voltando da costureira, Aline voltou a ouvir os gemidos musicais de sua paixão, contava então 12 anos, e, de pronto perseguiu o som, com a avidez que os corações apaixonados têm.

Descobriu o nome de seu eterno amor: violino !

Chorando copiosamente, pediu ao dono do instrumento que lhe permitisse abraçar o violino.

Abraçou e amou cada pedaço daquele instrumento, sentiu a textura lisa e fria da madeira, o cheiro das cordas e as cores de cada veio da madeira.

Era como se ela fosse de madeira e os seus dentes de marfim, as tripas os cordames  e tudo lhe fosse música desde o principio.

Comovido o dono do violino disse:

- tente tocar !

E ela tentou, e para surpresa de todos, menos do violino, tocou lindamente, vibrando com seu corpo a cada nota trêmula que produzia.

O dono do violino disse:

- pode ficar com ele, você é que devia ser dona dele !

Aline de sobressalto beijou o dono do violino e correndo em lágrimas de alegria, saiu contente rumo à sua morada.

Cruzou uma rua e mais 2 quadras, tudo estava mais lindo do que nunca, até os mendigos pareciam mais bonitos.

Um disparo .

Aline morreu, vítima do instrumento musical de um PM, um homem de 45 anos, frustrado com seu instrumento, o 38, irado por ser um fracasso na música.

Aline foi enterrada com seu violino.

Dizem que de noite, perto de seu túmulo, o vento sopra as melodias de Bach.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Hum...






Hum...

Haverei eu de
Soprar meu sopro
De voar descalço
De beber a chuva

Haverei de haver
De ser
De sentir
Haverei de rir


Rir-me-ei de ti
Rir-te-ás de mim
Rir-se-ão de todos

E havendo
De não haver
Não haverá o riso.

A MENINA DE VENTO

 

Era uma vez uma menina chamada Zefirina,  que amava correr com os cabelos soltos, fazer bolhas de sabão e assoprar poeira pelo ar.

Cresceu sozinha, ninguém sabe de quem ou quando nasceu, de onde veio e para onde ia.

Nunca foi vista comendo nada, nem bebendo nada, vivia de vento essa menina Zefirina.

Tinha a pele bem branca, mesmo ficando o dia todo ao sol, e nos olhos um azul indescritível; um nariz muito fino e delicado e uma boca bem pequena, com os lábios roxos.

Todos gostavam muito dela e adoravam vê-la correndo pelas colinas.

Havia alegria naquele lugar só por causa dela, e, faz muito tempo que não mais sabe dela.

Ela cresceu e encontrou um rapaz. Casou !

terça-feira, 13 de outubro de 2009

OS GUERREIROS DE COBRE

 

Há mais de 500 anos havia um grupo de soldados conhecido como os soldados de cobre.

Não tinham nomes, apenas apelidos, não tinham casas, nem famílias e nem nada.

Nem mesmo armaduras alguns tinham.

Todos eram filhos de eiras e beiras, nobres anônimos; célebres crias do acaso.

Foi que um dia um rei sem braço, para não dizer sem coração, iniciou contra eles tal perseguição, tão dura quanto a religião, tão má quanto pode ser um pagão.

Eles lutaram com o nada que tinham, venceram a maioria dos inimigos, mas a maioria, infelizmente, era menor do que o todo.

Comeram o lodo, foram sepultados sem caixão, nem trombeta, nem tiro de canhão, parecia um funeral de vilão.

Dos troços encontrados nos destroços, acharam uns poucos fósforos, alguns desenhos, roupas velhas e uma placa de cobre.

Na placa podia-se ler: “- estes são os bravos guerreiros de DEUS, são altos como arbustos, fortes como grilos e bons como dias de chuva; lutam pelo bem, suas espadas são fugas, seus escudos a verdade. Não conhecem de bens a prosperidade, mas, carregam um tesouro no coração. Um alerta:  QUEM QUER QUE OS MATE, VIVERÁ COMO CÃO, DESEJARÁ SER DESPEDAÇADO POR LEÃO, MISÉRIA, TRISTEZA E MORTE, ALÉM DE ETERNA MÁ SORTE, SÃO AS PROMESSAS, PARA TODOS OS QUE NESSA MALDADE COLOCAREM O CORAÇÃO.

Dizem que o rei furou os próprios olhos e morreu 9 meses depois.

Dizem que a batalha nem foi sangrenta, que os soldados vencidos, foram na verdade convencidos a abandonar o caminho do mal.

Dizem que os guerreiros de cobre eram apenas um grupo de 23 crianças, todas órfãs e sem lembranças da terra natal.

Dizem que foram mortas a pau, pelo rei, seus mais fiéis servos e por um animal.

Eu não digo nada, mas, eu digo:

Fui um dos vencidos e hoje eu odeio o mal.