quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O VIOLINA DE ALINE

Num apartamento apertado vivia Aline.

Sonhadora e leve como um suspiro, Aline vivia com os pés na terra e a mente nos céus; diziam todos que ela era burra.

Nunca soube nada e de tudo que aprendeu esqueceu mais da metade, era muito educada e possuía uma erudição única, contudo, os saberes seus de nada adiantavam, de nada lucrava e de nada construíam.

Aline era como um travesseiro meio vazio, cheiro de camomila e cores meio apagadas.

Se não tivesse nascido gente, teria sido uma brisa de primavera ou um dente-de-leão voando nos ares.

Aos 5 anos de idade Aline ouviu um som desconhecido, era um gemido agudo e longo, triste como só a vida pode ser.

Foi paixão à primeira ouvida, não dormiu  bem por muitas, desejosamente atormentada pela paixão que aquele som lhe produzia.

Deitava e sentia um comichão lhe correr a espinha, só de reproduzir mentalmente o som que tanto amava.

Num certo fim de tarde, voltando da costureira, Aline voltou a ouvir os gemidos musicais de sua paixão, contava então 12 anos, e, de pronto perseguiu o som, com a avidez que os corações apaixonados têm.

Descobriu o nome de seu eterno amor: violino !

Chorando copiosamente, pediu ao dono do instrumento que lhe permitisse abraçar o violino.

Abraçou e amou cada pedaço daquele instrumento, sentiu a textura lisa e fria da madeira, o cheiro das cordas e as cores de cada veio da madeira.

Era como se ela fosse de madeira e os seus dentes de marfim, as tripas os cordames  e tudo lhe fosse música desde o principio.

Comovido o dono do violino disse:

- tente tocar !

E ela tentou, e para surpresa de todos, menos do violino, tocou lindamente, vibrando com seu corpo a cada nota trêmula que produzia.

O dono do violino disse:

- pode ficar com ele, você é que devia ser dona dele !

Aline de sobressalto beijou o dono do violino e correndo em lágrimas de alegria, saiu contente rumo à sua morada.

Cruzou uma rua e mais 2 quadras, tudo estava mais lindo do que nunca, até os mendigos pareciam mais bonitos.

Um disparo .

Aline morreu, vítima do instrumento musical de um PM, um homem de 45 anos, frustrado com seu instrumento, o 38, irado por ser um fracasso na música.

Aline foi enterrada com seu violino.

Dizem que de noite, perto de seu túmulo, o vento sopra as melodias de Bach.

2 comentários:

  1. - Mensagem subliminar né huashusahush ontem nos desvendamos o que na vdd vc quis dizer com esse texto, vc hein primo kkkkk mas ficou massa o texto.. final triste, mas o mundo não anda msmo sorrindo ultimamente.!

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